O Segredo da Fé na Bíblia Hebraica: Mais do que Acreditar, é Confiar
E se eu lhe dissesse que a fé, na sua raiz original, não tem nada a ver com “acreditar em algo que você não pode ver”? E se, na verdade, fosse o contrário? E se a fé fosse a coisa mais sólida e concreta em que você poderia se apoiar?
O que é Fé de Verdade? A Firmeza de “Emuná”
Quando pensamos em fé hoje, imaginamos um salto no escuro. Mas a Bíblia Hebraica, o Tanakh, usa uma palavra muito diferente: Emuná. Essa palavra não vem de “crer”, mas da mesma raiz de “Amém”, que significa firmeza, confiabilidade, lealdade e estabilidade.
Imagine uma cadeira de madeira maciça. Você não “acredita” que ela vai te segurar. Você se senta nela porque confia na sua estrutura, na sua firmeza. Você testa, você vê que é sólida, e então descansa seu peso nela. Isso é Emuná. Não é um sentimento; é uma ação baseada na confiança de que Alguém é absolutamente fiel e estável.
Fé, portanto, é a sua resposta de lealdade à fidelidade de Deus. Ele é a cadeira firme. A fé é o seu ato de sentar-se. Uma coisa depende da outra.
“…mas o justo viverá pela sua fidelidade (Emuná).”
Heróis da Confiança: Vendo a Fé em Ação
A Bíblia Hebraica não nos dá definições de dicionário. Ela nos mostra histórias. Pessoas reais, com medos e falhas, que aprenderam a “sentar na cadeira”.
- Abraão: Pense nele. Um homem idoso, cuja esposa era estéril. Deus lhe promete um filho e uma nação. A razão dizia “impossível”. Mas Abraão não deu um salto no escuro. Ele olhou para o caráter de Quem fez a promessa. Ele agiu com base nessa confiança: saiu de sua terra, caminhou para o desconhecido e, no teste final, esteve disposto a oferecer seu próprio filho, confiando que Deus era fiel para cumprir Sua promessa de qualquer maneira. Sua fé não era ausência de lógica; era uma lógica baseada em um Deus ilógico para os padrões humanos.
“E ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça.”
A palavra hebraica para “creu” aqui é “He’emin”, da mesma raiz de Emuná. Significa que ele se considerou firme e seguro na promessa de Deus. Ele se apoiou nela.
Fé: O Coração da Aliança com Deus
Por que essa tal de Emuná é tão importante? Porque ela é o elo que une uma aliança. Uma aliança, na Bíblia, é como um contrato de casamento. Exige lealdade e confiança de ambas as partes.
A maravilha é que a aliança não começa com a nossa fé. Começa com a fidelidade de Deus. Ele é quem se apresenta primeiro como a rocha firme, como o parceiro leal que nunca falha. A nossa fé, a nossa Emuná, é a nossa resposta de lealdade a Ele. É dizer: “Eu confio no Seu caráter. Eu vou andar de acordo com os termos dessa aliança porque o Senhor é fiel.”
Percebe a mudança? A pressão não está em você “ter fé suficiente”. A pressão está em reconhecer a fidelidade suficiente de Deus. Isso muda tudo. E aqui, em silêncio, talvez você reconheça as inúmeras vezes em que sua confiança esteve em coisas frágeis, em cadeiras bambas: seu próprio entendimento, seu dinheiro, sua força. Esse desvio de confiança é a raiz do que a Bíblia chama de pecado.
Mas há esperança. A história não termina com nossa incapacidade de sermos leais. A aliança definitiva foi selada por Alguém que demonstrou a Emuná perfeita. Jesus Cristo foi a encarnação da fidelidade de Deus e, ao mesmo tempo, o homem que viveu em perfeita lealdade e confiança no Pai. Através da Sua graça, a fidelidade dEle cobre a nossa infidelidade.
Perguntas que Ecoam na Mente
Se eu tiver dúvidas, significa que não tenho fé?
Absolutamente não. A dúvida não é o oposto da fé; a incredulidade é. Dúvida é uma mente que luta, que questiona, que busca firmeza. O próprio Abraão riu da promessa de Deus (Gênesis 17:17). A fé bíblica não é a ausência de perguntas, mas a decisão de levar essas perguntas à única Fonte de respostas firmes, em vez de se afastar dEle.
Fé é o contrário da razão e da lógica?
Não. A fé bíblica é supraracional, não irracional. Ela não ignora a lógica; ela começa onde a nossa lógica termina. É perfeitamente racional confiar em alguém que tem um histórico comprovado de fidelidade. Deus libertou Israel do Egito, abriu o mar, proveu comida no deserto. A fé deles era uma resposta lógica a esses atos poderosos. A fé confia no caráter de Deus quando as circunstâncias parecem ilógicas.
Olhando por Outro Ângulo
| Insight 1: Fé como Memória Ativa | A fé hebraica está profundamente ligada à memória. Os mandamentos para “lembrar” do Êxodo, por exemplo, não são apenas para recordar um fato histórico. São convites para reativar a confiança. Ao lembrar do que Deus fez, o povo ganhava a firmeza (Emuná) para confiar no que Ele faria. Sua fé hoje é alimentada pela memória da fidelidade de Deus no passado? |
| Insight 2: O Oposto da Fé é o Medo | Muitas vezes, o que paralisa nossa confiança não é a dúvida, mas o medo. O medo nos faz confiar em nossa própria capacidade de controlar o futuro. Emuná é a transferência deliberada de confiança: eu paro de confiar no meu controle e começo a descansar no controle soberano e amoroso de Deus. É uma troca de fardos. |
Quebrando a Grande Objeção: A “Fé Cega”
A objeção mais comum é que a fé bíblica é uma “fé cega”, um salto irracional no escuro. Isso é um mal-entendido completo do conceito de Emuná. A fé bíblica nunca é cega. Pelo contrário, ela é uma fé de olhos bem abertos.
Ela olha para a criação e vê o poder de um Criador. Ela olha para a história de Israel e vê a mão de um Redentor. Ela olha para as profecias cumpridas e vê a mente de um Deus soberano. Ela olha para a vida, morte e ressurreição de Jesus e vê o amor de um Salvador. A fé não é um salto no escuro; é um passo para dentro da luz, baseado em evidências esmagadoras do caráter e da fidelidade de Deus.
A pergunta que deixo pra você não é “Você tem fé?”, mas sim: Onde você está depositando a sua confiança? O chão onde você está pisando é firme? 🤔
